terça-feira, 3 de maio de 2011

Casa nova

É engraçado o céu preto.
Parece minha camisa, mas minha camisa não chove não. Minha cara chove quando o céu fica preto. Se Laerte me desenhasse no jornal de hoje, pintaria uma cara chovendo ou um céu preto. Laerte às vezes é tão besta e incrível.

Eu tenho um guarda-chuva que protege aquilo que é meu corpo, daquilo que minha cara chove. Ele fica logo abaixo daquela que me lembra de tudo e acima daquilo que é o resultado de tudo que fiz.

Eu me mudei de mim ontem. Agora moro aqui nessa rua. As casas pintadas de cal são divertidas de um colorido sorriso forçado. Tenho uma cadeira, uma janela e um céu preto. O nome da minha rua é Nossa Senhora do Silêncio.

Eu queria ser o céu preto. Ele sempre está aqui ou ali ou em qualquer outro canto. Ele chove pra ela. E eu, cinza, com minha cara, cinza, a chover no lugar errado.

Comprei três metros de céu preto. Vou comê-los.
Tem gosto de alfinetadas de chuva fraca.
Agora o céu preto chove dentro de mim.
Agora o céu preto chove nela.